Crianças abandonadas, vítimas do êxodo rural

Pensando na função do estado frente a esta situação (crianças abandonadas em instituições estaduais vítimas do êxodo rural) vejo que o estado da um tiro no próprio pé. È o estado que oferece grandes formas de financiamento para os grandes produtores rurais adquirirem mais terras e produzirem mais com seus maquinários potentes visando primordialmente o retorno financeiro desta situação (capitalismo). No oposto desta situação esta o pequeno produtor, pequena quantidade de terra, sem incentivo fiscal do estado, ou seja, impotente frente aos grandes produtores. Se vê obrigado, sem meias palavras, a vender sua propriedade e trilhar um novo caminho; utópico sonho de conseguir uma vida melhor na cidade e dar dignidade a sua família. Por fim esse indivíduo também se vê obrigado “pelas circunstâncias” a deixar seu(s) filho(s) em uma instituição estadual até que se estabilize em sua nova função social. Os pais partem para as cidades com o objetivo de realmente encontrarem uma condição de vida melhor e trazerem seus filhos. Porém com o mundo globalizado, tecnológico o qual vivemos não lhes oferecem esta real possibilidade de melhorar sua condição de vida, e acima de tudo essa condição piora.
Pai/mãe sem ter como sustentar seu(s) filho(s) acredita que será melhor ele permanecer nesta instituição estadual do que passando necessidades. È ai em que o estado colhe o que plantou quando supervalorizou seu investimento nos grandes produtores rurais. Obviamente o cidadão que partiu para a cidade não teve sucesso (grande maioria dos casos).
Nesse pequeno texto podemos observar que a falta de visão social do próprio estado causa parte do abarrotamento de crianças vítimas do êxodo rural no Brasil. È como disse Marx e Engels “configura-se como um produto necessário à acumulação capitalista.” Esta situação causa, entre outros problemas, o que Teresa Cristina Carreiro chamou de “lógica da inviabilidade do sofrimento” que afeta as crianças abandonadas por seus pais com a promessa de um dia retornarem ao seu convívio familiar; e com o passar do tempo essa promessa não se efetiva causando enorme sofrimento. Outra conseqüência para os indivíduos envolvidos nessa situação esta o déficit narcísico que é segundo Ruiz Correa em (2000) o acúmulo de ataques gradativos.
As crianças abandonas pela família geralmente sofrem conseqüências sérias na formação do sue psiquismo que vai desde a dificuldade de estabelecer relações afetivas até a marginalização. Esses pequenos que forjados com déficit narcísico podem se expressarem de uma forma agressiva, ou seja, pela lógica da virilidade que vem a ser segundo Déjour (1997) “a expressão da violência simbólica ou real que se é capaz de impor ao outro”.
Carreteiro em (1993) diz que “Quando os suportes institucionais são muito fragilizados, o corpo aparece como único bem que as pessoas sentem possuir”. Acredito que em conseqüência a esta visão de corpo ser o único bem pode acarretar em um certo grau o número de prostituição de adultos que outrora foram abandonados em instituições estaduais. Tendo em vista que como considera o corpo seu único bem pode fazer dele sua forma de ganhar a vida.
Relacionando a foto, o texto que expressei acima com o que lemos e discutimos na aula posso destacar os seguintes tópicos: Atitudes, processo de socialização e linguagem.
As Atitudes são segundo Aroldo Rodrigues “são informações com forte carga afetiva, que predispõem o indivíduo para determinada ação (comportamento)”. Essas atitudes podem ser encaradas como conseqüências das falhas de desenvolvimento do psiquismo do sujeito perante tantas dificuldades enfrentadas intrinsecamente durante sua formação dentro das instituições estaduais. Estas falhas atrapalham o que Aroldo Rodrigues chama de Processo de socialização que é “o conjunto de crenças, valores e significações”, “o indivíduo torna-se membro de um determinado grupo social”. E por fim temos a Linguagem que é segundo Aroldo Rodrigues “a condição essencial para o desenvolvimento”. Todos estes processos citados acima estão inter-relacionados e são de suma importância para o desenvolvimento adequado de qualquer ser humano que é segundo o entendimento de Albert Adler “um ser social por natureza”, ou seja, é um produto do meio social o qual faz parte.


Conclusão

O ser humano sofre influência do meio desde os primeiros instantes de vida. Portando uma criança que recebe afeto, segurança e é mantida em um meio organizado com valores éticos e morais tem uma chance muito superior de ser um indivíduo produtivo para a sociedade. Já estas crianças relatadas na foto de Sebastião Salgado que se formam com muitas falhas sociais, com muita deficiência no seu desenvolvimento, será muito difícil formarem uma personalidade capaz de integrarem um grupo organizado e produtivo. Encerro falando na possibilidade que existe desses indivíduos se auto-formarem através da resiliência que é segundo Ivan Capellato “a capacidade que alguns (número seleto de pessoas) formarem seu próprio superego”, ou seja, por mais difícil que seja a situação que essas crianças se encontrem sempre terá um fio de esperança. Finalizo com a frase do psicólogo e educador Frances Pierre Weil “muitas instituições educativas e sociais foram criadas para receber as crianças abandonadas desde a tenra idade. São soluções que procuram até um certo ponto substituir a família.” Como a frase esclarece, substitui até um certo ponto. Apenas!



Bibliografia

CHAVES, A.M. Crianças abandonadas ou desprotegidas. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - USP, São Paulo, 1998.

Ivan Capelatto no programa Café Filosófico da TV Cultura “Educação e limites”

Texto: A psicologia social de Aroldo Rodrigues.

Texto: Sofrimentos Sociais em debate, Teresa Cristina Carreteiro, Universidade Fluminense.

Foto de Sebastião Salgado, “Crianças abandonadas em instituições estaduais”. http://sites.google.com/site/7e5histfoto/sebastiao-salgado

Pierre Weil, http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-04.htm

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