Movimento Hip Hop, o porta voz da periferia Brasileira.

HIP HOP NO BRASIL

O HIP HOP surgiu no Brasil na década de 80, nesse momento ainda não existiam movimentos que retratavam exatamente o seu fundamento de forma organizada, tinham um grande número de adeptos, mas ainda não se caracterizava como movimento social. Foi nesse momento surgiram nomes importantes como Thaíde e o Humberto, ou melhor, o Dj Hum, MC Jack que também é DJ, Pepeu, Racionais Mc's. General G, que ficou considerado o melhor vocal e a melhor levada de Rap, que com o tempo simplesmente desapareceu do mapa. A partir desse grupo precursor o rap passou a dar voz aos excluídos e adotar como principais temas os protestos, problemas sociais, violência, miséria e questões raciais. Ou seja, o hip hop traz em suas letras grito de socorro de uma grande parcela da sociedade que o único direito aplicado é o direito a não ter direito. Com isso o hip hop tem grande repercussão política no sentido de denunciar opressões vindas do estado para indivíduos humildes e na maioria dos casos de raízes africanas. Como abordou Kehl (1996) “Quem prestar atenção nas letras quilométricas do rap, provavelmente vai se sentir mal diante do tom com que são proferidos estes discursos.” As pessoas se sentem mal porque ouvem uma realidade negada na velha e conhecida pretensão brasileira de dizer que “nesse país não existe racismo, somos miscigenados por natureza, povo alegre e gentil”. Pura máscara para atrair turistas escondendo a favela carioca de cartões postais; um país que reafirma seu grande interesse em manter o que é de origem pobre e negra longe da possibilidade de um crescimento cultural e social negando o acesso à educação através das cotas em universidades públicas, por exemplo.
Assistimos uma mídia que destrói o povo da periferia generalizando comportamentos em suas novelas, telejornais que optam por sensacionalizar um jovem traficante de periferia que exportava cocaína para a Europa “será que esse jovem é o principal articulador dessa negociata? Como? E o custo dessa logística, como ele paga? Quem paga? Se o estado não lhe ofereceu escola, ele mal sabe escrever seu nome completo! Mal sabe a tradução de (I LOVE YOU), será que não estamos na contramão da real fonte que alimenta o tráfico de drogas no Brasil”. Que na modernidade se apresenta como o maior responsável pela destruição dos jovens brasileiros, sejam estes usuários e ou traficantes? São questões que não são abordadas abertamente com a sociedade menos informada.
¹ brasileiro que se preza tem a obrigacao de escutar racionais


QUANDO HIP HOP SE TORNOU UM MOVIMENTO SOCIAL?

O hip hop já nasceu como movimento social, pois a sua essência é a busca pela igualdade. É considerado uma das mais importantes manifestações culturais da atualidade e configura-se como legítimo instrumento de comunicação da juventude pobre. O hip hop no Brasil tem como “principal idéia constituir canais de atuação e aglutinação entre os jovens através da cultura e da arte” (Diógenes, 1998, p: 121).
Apesar do movimento se dedicar a ações importantes a sociedade vive sob fortes críticas de uma elite dominadora e detentora dos meios de comunicação de massa. Em um país onde a maioria da produção artística é alienante e desprovida de sentido, o hip hop está sobrecarregado de preconceitos e estereótipos, ou seja, marginalizado.
“No Brasil historicamente todos os símbolos que traduzem a herança africana foram usurpados, relegados à condição de subalternidade e negados do processo de contribuição da formação da cultura brasileira. Foi criada uma cultura onde se acredita que o que vem da África, o que é originalmente negro é ruim”. ²Danillo Bitencourt (BA) - Presidente Nacional da Central Única das Favelas

HIP HOP NO SUBJETIVO

O grande objetivo do hip hop é despertar a consciência da juventude periférica para o seu lugar em nossa sociedade, mostrando-lhes como são vistos pela elite dominante, como são tratados pela mesma e a partir dessa concepção situar esse jovem sobre seus direitos ensinando-lhes (de forma subjetiva) como buscar seu espaço e valorizar sua cultura/origem. O movimento hip hop procura despertar algumas atitudes individuais fundamentadas numa referência coletiva. Ou seja, como disse KEHL (1999, p.100) “O rap não oferece, evidentemente, nenhuma saída material para a miséria Também não aposta na transgressão como via de autoafirmação, como é comum entre os jovens de classe média”; pois sua essência não é capitalista e nem vem de atitudes fundadas no dinheiro. Não vende a ilusão de que o jovem entrando para o movimento terá uma ascensão financeira, nem mesmo ele se tornando um MC ou DJ.
Busca despertar os jovens para a utopia de felicidade que as mídias vendem em suas propagandas e novelas. Chama a atenção para autovalorização e a realidade do mundo da criminalidade; como explicita Racionais MC’s “O drama da cadeia e favela, tumulo, sangue, sirene, choros e vela”.

“Eles apelam para a consciência de cada um, para mudanças de atitude que só podem partir de escolhas individuais; mas a autovalorização e a dignidade de cada negro, de cada ouvinte do rap, depende da produção de um discurso onde o lugar do negro seja diferente do que a tradição brasileira indica. Daí a diferença entre os Racionais e outro jovem músico negro, outro Brown, este baiano.” Repórter da revista RAÇA sobre entrevista com Racionais MC’s em 1991.


RESULTADOS OBJETIVOS

MH 2 O DE FORTALEZA-CE
Em Fortaleza desde o surgimento do Movimento Hip Hop com a Fundação do MH 2 O do Ceará em 1989 que o cenário cultural e político da cidade ganhou uma nova configuração. Pois pela primeira vez na história de Fortaleza a periferia passa a se expressar sem intermediários (nem os assistentes sociais dos governos e nem a classe média organizada nos partidos de esquerda representam mais os pobres que ganharam voz e linguagem próprias com o MH 2 Oce). Por *Johnson Sales.

CUFA-CENTRAL ÚNICA DAS FAVELAS
A CUFA age como um polo de produção cultural desde 1999, por meio de parcerias, apoios e patrocínios. Dentre as atividades desenvolvidas pela CUFA, há cursos e oficinas de DJ; Break, Graffiti, Escolinha de Basquete de Rua, Skate, Informática, Gastronomia, Audiovisual e muitas outras. São diversas ações promovidas nos campos da educação, esporte, cultura e cidadania, com mão de obra própria. Está presente em todos os estados do Brasil, no Rio Grande do Sul está presente em 12 cidades. Internacionalmente atua em países como Alemanha, Angola, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, Hungria, Itália, EUA, Venezuela. Tem como presidente de honra o rapper MV BILL, que por sua vez é um dos fundadores e já ganhou prêmios internacionais como uma das 10 pessoas mais militantes do mundo em 2004, pela UNESCO e prêmio cidadão do mundo da ONU, entre outros.

FRENTE BRASILEIRA DE HIP HOP- FBHH EM CUIABÁ-MT
Nesse projeto se destaca o valor informativo do hip hop, pois tem a consciência de que a cada dia, os processos de comunicação ocupam um lugar mais estratégico em nossa sociedade, permitindo as interações, trocas de informação e fortes mudanças sociais, principalmente na área cultural.
“60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras. Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros. A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo. Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente”. Mano Brown na música: Racionais Capítulo 4, Versículo 3

CONCLUSÃO

O movimento hip hop no Brasil é o principal porta voz das periferias de todos os estados. Atualmente exerce uma função social indiscutível junto às comunidades, substitui o estado em determinados locais esquecidos, se mostra incansável e incondicional na luta contra o preconceito racial e social. O hip hop chegou ao Brasil como um ritmo contagiante que logo tomou conta das paradas de sucesso da época, no entanto passou a ser marginalizado pelo simples fato de ser originalmente suburbano, com ritmo e movimentos negros. Mesmo assim resisti até hoje sobre fortes ataques e se torna o maior movimento social da atualidade em nosso país “originalmente miscigenado, sem preconceitos e gentil”, imagem para Inglês ver.
“Que a autoestima e a dignidade dos rapazes negros da periferia não dependam da aceitação por parte da elite branca, não significa que não produzam outros laços, outras formas de comunicação, inclusive com grupos mais ou menos marginais a esta própria elite” (Brown, 1991).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIÓGENES, G. Cartografias: da cultura e da violência, gangues, galeras e o movimento hip hop. Ed: Annablume, 1998
KEHL, M.R. A minima diferença. Capitulo: Radicais, raciais e racionais: A grande fratriado rap na periferia de São Paulo, p; 95-106. Editora Imago. Ano1996
¹Comentário de Ademardigital, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=02-h9t0VpVI&feature=related, acessado em 14/06/10.
²Manifesto contra as declarações do cônsul do Haiti, disponível em http://www.manifestohaiti.cufa.org.br/in.php?id=reflexao/0001 acessa em 10/06/2010.
* Conhecido como Poeta Urbano, é um dos coordenadores do MH2O, disponível em http://mh2odobrasil.blogspot.com/ acessado em 15/06/10

Comentários