Sexta-feira quando ele voltava do trabalho,
enquanto dirigia decidiu ligar o rádio e logo ouve a noticia de que havia um
circo de passagem pela cidade. Como de costume, trocou logo para sua seleção de
músicas favoritas, pois naquele momento não estava com paciência para ouvir
sobre a série de problemas que existem no Brasil. Não gostaria, de forma
alguma, de saber como andava a politica, segurança da cidade, muito menos sobre
a vida das sub-celebridades. Ele só queria escutar música e chegar logo. Sabia
que ao chegar poderia tomar seu banho e descansar. O percurso do trabalho para
casa é de 60 km aproximadamente, uma hora com o transito normal, mas aquele
retorno, já passava de duas horas de deslocamento. No caminho havia muito
tráfego, buzinas e protestos para todo o lado. Nada disso o tirou do foco
(banho e descanso). Afinal, era sexta-feira.
Ao abrir o portão da garagem percebeu uma
movimentação diferente dentro de casa; guardou o carro; pegou sua pasta, fechou
o portão e ao entrar em casa ouve o grito de:
-
Surpresaaaaaa!
Quem gritava era sua filha, Júlia de cinco anos e da sua esposa
Joana, as duas estavam com ingressos do tal circo. Entrou logo no clima e saiu
pulando como uma criança.
- Põe sua roupa logo, pai... Vamos o show começa daqui a
trinta minutos. E eu quero uma maça do amor antes e outra depois do circo.
Disse Júlia em êxtase.
Ele estático tentava lembrar o que havia
planejado para fazer assim que chegasse a casa, por alguns minutos e enquanto
tomava seu banho “The Flash” lutou para se lembrar dos seus planos, mas sem
sucesso. No carro, a bagunça das duas continuou,
todavia ele mantinha-se concentrado no trânsito e preocupado com o horário.
- Chegamos. Ele disse a elas, mas elas praticamente não
falavam, ouvia apenas muitos risos e brincadeiras. Aquelas cenas e sons lhe
faziam feliz, entretanto ele continuava tentando se lembrar do precisava fazer
quando chegasse a casa. Aqueles pensamentos não o deixavam curtir o momento.
Vinte horas em ponto e já passeavam pelo
espaço ouvindo musicas circenses, risadas, gargalhadas e alguns palhaços
divulgando o espetáculo. Como o local onde o circo se instalava era ao lado de
um eucaliptal, sentiam o cheiro de natureza misturado com o cheiro de infância
- um mix de pipoca, algodão doce e amendoim.
Continuavam o passeio, com balões coloridos, pelos espaços do circo, ainda não
haviam encontrado a maça-do-amor.
De repente ouvem o locutor anunciar: - Respeitável público!!!
É com muita alegria que iniciamos o espetáculo desta noite. Aliás, primeira apresentação desta
noite de hoje à noite. Peraí! Acho que eu já disse isso essa
noite. Estou confuso! Já disse pessoal? Que não escutei. Já disse pessoal?
-Simmmmmm! A
plateia responde.
Com esse pleonasmo a plateia, principalmente,
as crianças esbanjam gargalhadas. A partir disso, os palhaços continuaram suas
apresentações arrancando milhões de gargalhadas histéricas da plateia, depois o
show ficou tenso com a entrada da mulher “barbada” que precedeu uma nova dupla
de palhaços que o convidaram para ir até o picadeiro e servir de isca para as
palhaçadas deles. Nesse momento, ele estava se divertindo igual a sua filha e
sua mulher, na verdade é pretensão dizer isso, porque para ele ninguém estava
se divertindo mais que Júlia. Teve um momento do espetáculo que um dos palhaços
pediu que ele imitasse um cavalo (sugerindo
de forma discreta que ele se abaixasse) e ele se abaixou apoiando as mãos
no chão. Pediu para que ele virasse de costas para a plateia (nesse momento ele estava envergonhado, mesmo
assim atendia aos comandos dos palhaços) e após os tais palhaços fazerem
alguns gestos, (como se estivesse
analisando a qualidade do alazão) o desaprovou para a plateia dizendo:
- Parece mais um “buro” do que um cavalo. Eu pedi para
você imitar um cavalo seu tonto. É um cavalo mesmo!
- É um burro. Grita a plateia.
- Opa um burro, sei lá, já nem sei o que você é! Volta
para o seu lugar sua zebra, girafa... Segue o palhaço.
A dupla de palhaços deu espaço para um
pequeno mágico, um menino de 14 ou 15 anos no máximo. Ele chegou calmamente com
seu paletó e uma cartola grande e preta. A plateia esta em silencio absoluto,
esperando o que o menino poderia fazer, já que a mágica (ou o mágico) é um dos
espetáculos mais antigos da arte circense.
O menino não decepcionou, retirou o coelho da cartola; fez surgir
galinhas no meio da plateia; ovos nos bolsos dos que estavam próximos ao
picadeiro e por fim, como grand finale, retirou
o coelho novamente da cartola e o jogou para cima – total silencio seguido e de
um suspiro ( mão na boca) de preocupação com o bichinho - e o coelho se transforma em um pombo branco
que voa por cima da plateia que o aplaude de pé. O pequeno e talentoso mágico
sai de cena sem dar uma palavra.
Os tambores rufam entre um espetáculo e outro,
e ele apaixonado por aquelas apresentações, não se preocupa com nada, só quer se
divertir. Em determinado momentos ele pensa:
-Porque não venho mais vezes ao circo com
minha família? O circo ainda me fascina.
O show continua com a técnica dos
marabalistas; o cuspidor de fogo assusta a plateia; as acrobacias sobre os
cavalos deixam o público tenso, assim como os trapezistas. Curtia cada detalhe,
tentava perceber o tempo que o acrobata utilizava para descer e subir do
cavalo; o quanto o cuspidor de fogo cuidava para que o fogo fosse para cima e
nunca em direção ao público; a entrega dos trapezistas ao segurar com segurança
uns aos outros. João estava fascinado por cada detalhe de cada espetáculo.
- Pai, pai. Acorda!
João abre os olhos e percebe que esta na cama
ao lado de Joana e Júlia que o acorda com um beijo. Olhou para as duas e as
convida:
- Vamos ao circo hoje?
- Circo onde? Não tem circo aqui na cidade! Responde
Joana.
- Não tem problema, vamos onde o circo estiver, mas
precisa ter maça do amor, aliás, duas, uma na chegada e outra na saída!
Combinado filha?
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