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O filme Diários de
Motocicleta, filmado em 2004 relata a viagem de dois amigos, Ernesto e Alberto,
em 1952, pela América latina a bordo da “furiosa”, uma moto 1939 de 500Cc. O
objetivo inicial da viagem era conhecer a maior número de países em 30 dias. No filme Ernesto, apelidado de Fuser,
foi convencido pelo amigo e biomédico Alberto de apelido Mial a embarcar nessa
aventura com o pretexto de comemorar o seu aniversário durante a viagem. Até
esse momento, o filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles, parecia que
seguiria uma comédia a brasileira, tal impressão seguiu-me até a primeira
virada do filme que ocorreu após a estadia de na casa de Titina, noiva de
Ernesto, que resolve romper o noivado afirmando que não o esperaria a vida
inteira. Apesar do sofrimento inicial, aquele acontecimento, de certa forma,
libertou Ernesto para que ele pudesse observar algumas questões do cotidiano
das cidades pelas quais passavam de forma mais critica.
Durante
a viagem encontraram inúmeras dificuldades: Moto quebrando toda hora, deserto,
cordilheiras, neve, tempestades, sede, fome, falta de dinheiro; não obstante
seguiram em frente. Aos poucos foram se conhecendo e a diferença de
personalidade entre os amigos foi ficando evidente, Alberto pensava apenas em
si e nas suas necessidades e Ernesto se preocupava com os outros, em alguns
casos antes de si. Além do sentimento de revolta com as desigualdades, abuso de
poder e com sua própria incapacidade de mudar a realidade que encontrava. De
forma objetiva, a diferença no pensamento dos amigos fica evidente na cena em
que eles param em uma fazenda para pedir pouso e comida em uma casa e para isso
se passam por médicos pesquisadores. O proprietário desta fazenda os mostra uma
Saliência em seu pescoço e pergunta-lhes o que poderia ser. Alberto diz que é
apenas um a glândula sebácea e que algum tratamento em casa resolveria, todavia
Ernesto avalia o senhor com calma e diz que ele precisa procurar atendimento
médico urgente, pois acredita que seria um câncer. Ambos discutem porque a
informação dada por Ernesto irrita o homem e o mesmo não os ajuda.
A
partir da cena descrita acima; no atendimento prestado por Ernesto a uma
senhora no Chile que há tempos não via um médico; no encontro e conversa com um
casal de mineiros que foram vitimas do total descaso pelos patrões e que em
função disse se sujeitaram a tirania das mineradoras; entre outros relatos, era
possível observar o nascimento de uma ideologia naquele jovem formando em
medicina, de casamento marcado e oriundo de uma família de classe média de
Buenos Aires que Ernesto fora.
A
dupla de viajantes chega ao Peru e é recepcionado por um guia muito especial, o
Sr. Nestor, um menino de oito ou nove anos de idade que lhes apresentou as
construções incas comparando-as com as construções espanholas. Em seguida
partem para Machu Pichu onde tiram muitas fotografias. No Peru, os
questionamentos e desejos de Ernesto estão cada vez mais fortes e latentes.
Inclusive, em uma conversa iniciada por Alberto em que este sugere uma
revolução através do casamento entre ele e uma nativa e assim convencer os
habitantes do povoado, depois do País e por fim da América Latina a se tornarem
uma única nação politica. Ernesto interpela afirmando que não seria possível
uma revolução desta amplitude sem a utilização de armas. Acredito que nesse
momento poderia dizer que nascia o Ernesto Che Guevara de La Serna como o
conhecemos hoje.
No filme ainda vemos a
evolução no pensamento de Alberto no sentido de querer ajudar os outros e não
ficar preso as suas necessidades. Vemos também a entrega de ambos no auxilio
aos doentes de lepra em uma colônia de tratamento. Nessa colônia, o grupo de
cuidadores aproveitou a festa de despedida da dupla para comemorar o aniversário
de Ernesto e nesse dia, Ernesto discursa pela primeira e única vez durante esta
viagem, falando de uma América Latina única e mestiça. Talvez este tenha sido o
momento que se fizermos um paralelo com a despedida de sua família em Buenos
Aires pode-se afirmar que a transformação de um homem a um revolucionário
acontecera.
Partiram da colônia no
dia seguinte e foram para Colômbia, depois para Caracas na Venezuela onde se
despediram. Alberto ficou e Ernesto partiu para Argentina onde concluiu o curso
de Medicina. Alguns anos depois, juntos e após iniciarem a revolução comunista
na América Latina fundam a Escola Latino-Americana de Medicina em Cuba. Diários
de Motocicleta independe de ideologia politica, pois trata da capacidade que o
ser humano tem de se transformar no contato com o outro e outras culturas,
assim como transformar os ambientes aos quais participa.
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