No fantástico Brasil de Ali Kamel


A curiosidade sempre foi um dos meus maiores defeitos e talvez a maior das minhas qualidades, por isso depois de algum tempo criei coragem para ler o livro do Diretor de Jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel intitulado como “NÃO SOMOS RACISTAS”. Finalmente, após suspender uma série de conceitos e preconceitos inerentes a qualquer ser humano iniciei a leitura e abaixo faço algumas considerações.

 

Cena um
 
 
          Ali Kamel, como o excelente profissional da área de jornalismo, argumenta muito bem as suas teses sobre o racismo no Brasil, de uma forma geral, qualquer pessoa que ler esse livro se não tiver um conhecimento prévio sobre a história do Brasil, sem dúvida, sairá convencido de que o Brasil é um país onde todos têm as mesmas possibilidades de ascensão social e que a cor da sua pele não tem qualquer influência no seu futuro. Seus principais argumentos são que no Brasil a discriminação não é por causa da cor da pele; está convicto de que somos uma nação que tem orgulho de ser miscigenada e que jamais na história do Brasil houve qualquer embargo legal a ascensão social do negro. Ali Kamel fala em ascensão social, pois defende a ideia de que no Brasil a discriminação é “Classista” e nada tem haver com o cara ser negro ou não. Ou seja, o negro é discriminado por ser pobre não pela cor da pele. Inclusive em uma passagem do livro afirma que se um negro for visto em carro ou hotel de luxo e for confundido com um ladrão é porque ele foi “confundido” com um pobre e não por ser negro.
 
Pergunto: E quando um negro anda em um carro popular (pobre tem carro popular) e é “confundido” com um ladrão, qual o motivo da confusão mesmo?
 
Imagem da internet
Cena dois
O Brasil “racista” de Ali Kamel nasce a partir de 1950 com as ideias do jovem sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que apresenta uma série de obras que sobre as dificuldades enfrentadas pelos negros diante de uma sociedade classista em que a elite branca (governante) não cria mecanismos para o desenvolvimento dos pobres (pretos) no Brasil, pelo contrario, dificultam o acesso à educação a ascensão profissional. Essa elite queria muito bem aos negros, desde que continuassem a serem seus serviçais passivos. Ali Kamel por ser tão bom jornalista e escritor que o leitor fica impressionado com sua capacidade de argumentação e corre o risco de esquecer que o Brasil tem mais de 60 anos. Pode esquecer que as relações entre as etnias em nosso país mais de 500 anos, interpretar uma relação tão complexa como é o racismo, baseado em pouco mais de meio século e na experiência pessoal, é uma pretensão mesmo para um dos homens mais influentes do Brasil.
 
Fernando Henrique na decada de 50/60
 
Cena três
Ali Kamel é um típico representante da elite que é contra as cotas nas universidades. Tem o discurso bastante conhecidos dos opositores a esta medida, a diferença é que ele organiza seus pensamentos de forma convincente, “cria/fantasia” um ambiente cultural no Brasil onde a igualdade de condições seria possível. Se o Brasil fosse como Ali Kamel o vê, ficaria muito feliz e concordaria com os seus argumentos de meritocracia. O autor entende que não existe racismo por cor, que temos orgulho de sermos miscigenados, logo todos podemos concorrer às mesmas oportunidades de forma igualitária, que o inconsciente do entrevistador em uma seleção para um cargo de liderança em uma empresa não trará qualquer referência ao se deparar com um candidato negro em um branco com as mesmas qualificações. Nesse momento me chama a atenção a “inocência”, e inocência com aspas mesmo, de um homem com o conhecimento a vivencia do profissional em questão. Será que ele mesmo acredita nisso? Como deve ser as conversas dele com seus pares? Na verdade eu desconfio, deve ser aquela que vai ao sentido da incompetência de os negros ou pobres mudarem a própria realidade. Enfim, “NÃO SOMOS RACISTAS” é um livro muito bem escrito e organizado e mostra o distanciamento planetário entre a elite brasileira e o povo. Infelizmente, Ali Kamel, nascido na classe média de 1960, descendentes de imigrantes sírios, apesar de um jornalista bem sucedido, pouco conhece da realidade brasileira.
  
Como medir forças diante desses dois mundos Sr Ali Kamel?

Demais cenas.
As demais cenas do livro caminham sobre as criticas as politicas de distribuição de renda adotadas pelo governo, assunto pelo qual não pretendo discorrer.
Em todos os capítulos Ali Kamel afirma que o racismo existe em todas as partes do mundo (apesar de confundir bastante o leitor sobre se acredita ou não no racismo no Brasil) e que a solução, de consenso nacional, em longo prazo, é o investimento maciço em educação de base.
 
*Dica: Conheça um pouco da história do Brasil antes de ler esse livro, senão sairá convencido de que NÃO SOMOS RACISTAS!
 

Comentários

Anônimo disse…
Deu vontade de ler!