Confiança, medo e relacionamentos


Confiança e medo, palavras de significados totalmente diferentes, porém Bauman as utiliza de forma brilhante para nos explicar o modo em que a civilização contemporânea vive.
No entendimento de Zigmund Bauman, é possível constatar o quanto os valores humanos estão ficando cada dia mais precários e sofrendo enormes transformações. As relações por exemplo, estão da vez mais restritas as pessoas de um mesmo “padrão”, mesma classe social, mesmos mitos e histórias. Esse modo operante de contruir relacionamentos criam bolhas sociais onde o que é diferente é compreendido como o inadequado e não como o diferente apenas. Interpretar a realidade desta forma nos deixa confuso pois trás a tona uma realidade triste e crua, porém mesmo nos mostrando tal realidade, de certa forma o mesmo autor nos mostra uma saída, capaz de amenizar tais fenômenos sociais.
Bauman, fala sobre a falsa ilusão de segurança que as pessoas sentem em fazer parte de um grupo que vive atrás de muros protegidos por seguranças treinados a qual damos o nome de condomínio.  Mesmo passando grande parte do seu tempo nesses locais que pode ser comparado aos antigos castelos da idade média, o individuo se vê obrigado a fazer parte de uma sociedade maior de uma amplitude física comum a todos como os shopings, cinemas e os centros das grandes metrópoles. Sendo assim, mesmo podendo pagar por toda a segurança condominial possível, em algum momento ele precisará sair desse local "seguro" da sua bolha e encarar as pessoas diferentes dele. Nesse momento surge o medo e a insegurança, Bauman diz que esse medo e insegurança nos seres humanos se dão pela mixofobia, que é o medo de se relacionar com as pessoas diferentes de si. Percepção aumentada significativamente pelos meios de comunicação em massa, principalmente àqueles que optam por uma abordagem sensacionalista diante de fatos negativos causando significativo mal estar social.  Em contraponto a isso podemos buscar relacionamentos saudáveis com o maior numero de pessoas possível e de preferência diferentes de si.
A mixofobia leva o ser humano a se relacionar com um numero cada vez menor e restrito de pessoas. As redes sociais colaboram para uma ilusão de que estamos acompanhados o tempo inteiro com centenas de pessoas, mas que na realidade não estão realmente interessados pelo nosso bem estar. Costumo dizer em minhas palestras que aquele que consegue ter cinco pessoas que largariam tudo para encontrá-lo em um momento de crise, seja existencial, familiar ou financeira, pode se considerar um privilegiado. Todavia, o que se percebe é uma caminhada que produz uma sociedade cada vez mais consumista e depressiva, pessoas que enchem farmácias e consultórios terapêuticos em busca de algum conforto, de alguma confiança. Se você deseja se sentir mais seguro invista em relacionamentos com pessoas de diversas tribos, idades e credos. Experimente e me conte depois.

@evertongaide

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