Trate a educação com educação

Na primeira semana deste mês publiquei um artigo falando sobre o financiamento da educação e o quanto evoluímos nessas garantias ate este ano de 2019. Nele chamei a atenção para a necessidade de olharmos com cuidado os próximos passos dos nossos governantes, pois o novo FUNDEB está em pauta e dele, hoje, toda a educação brasileira depende. Educar é um processo muito complexo e desafia as diversas sociedades ao longo dos tempos, nesse sentido não há uma receita que possa funcionar sem que haja riscos. Nesse contexto complexo e de incertezas existe um ator social chamado de professor, às vezes alçado às alturas tal como o salvador da nação, às vezes apontado como o causador de todos os males da educação brasileira. Se pensarmos de forma mais sensata perceberemos que nem um nem outro momento a avaliação está correta, pois a educação  é muito mais que a escolarização, afinal podemos encontrar pessoas altamente escolarizadas e sem educação. Diante disso, como seria o professor responsável pela educação desse cidadão se o papel crucial deste foi cumprido ao conseguir o sucesso na escolarização?

Um proverbio africano diz:
- É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança, ou seja, de nada adianta continuarmos colocando toda a responsabilidade do sucesso ou fracasso da educação de um país sobre os ombros dos professores, ou mesmo escola se a nossa sociedade continua a formar cidadãos alfabetizados sem educação.
Durante o século XX alguns países como Alemanha, Japão, Estados Unidos e França entenderam que para se reerguerem após a segunda guerra mundial em que sofreram prejuízos incalculáveis em todos os sentidos, eles deveriam investir em educação. Mas entenderam que investir somente na escola e no professor não era suficiente, por isso investiram também em educar a sociedade. Infelizmente não é essa a realidade do Brasil que mesmo depois de muitas décadas de sucesso na educação nos países citados anteriormente, parece que a complexidade da educação ainda não está clara em nosso País. Pelo contrário, o que se ouve são propostas simplistas que dificultam o diálogo; soluções “fáceis” que desconstroem as metodologias; padronização que desvaloriza a diversidade do nosso tempo e a rígida hierarquia que aniquila a autonomia e a criatividade.
Penso que chegou o momento da sociedade entender que o seu papel e o seu nível de responsabilidade sobre a educação das nossas crianças e adolescentes vai muito além de ficar atirado no sofá reclamando da postura dos professores, que em geral trabalham mais de 40 horas por semana para atender minimamente as necessidades educacionais dos seus filhos, netos ou sobrinhos. Já passou da hora dos pais procurarem as escolas e se colocarem a disposição para colaborar, seja dando uma palestra sobre bullying, doando jogos e materiais pedagógicos ou ajudando em uma pequena reforma. A educação é uma responsabilidade do estado, mas nós enquanto sociedade, temos o dever de garantir que o trabalho dos profissionais da educação seja viável. O fato é que tem como ajudar e o primeiro grande passo é tratar a educação brasileira com educação.

@evertongaide

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