Mês da consciência negra

Hoje inicia o mês da consciência negra em nosso país, mês que costumo denominar como o mês da consciência histórica brasileira, pois ao conhecermos a nossa história a luz dos fatos compreenderemos melhor a organização do nosso país hoje. Sabe-se que os primeiros relatos históricos do tráfico humano dos negros e toda a sua ancestralidade de mais de 40.000 anos para o Brasil datam de 1580, praticamente junto com a fundação do nosso país. A partir dessa informação entendemos existem os negros sem o Brasil, mas o contrario é uma grande falácia.
O africano foi trazido acorrentado para esta terra com o intuito de suprir uma demanda de mão de obra que não poderia ser atendido pelos colonizadores, pois estes não queriam “pegar no pesado” para produzirem a sua riqueza. A alternativa seriam os índios nativos que precisariam ser dominados e mesmo com a dominação da cruz em detrimento da espada, os índios não eram bons trabalhadores, pois o índio era um caçador, pescador e não compreendia a lógica do trabalho.
O criminoso regime escravocrata no Brasil perdurou por quase 300 anos e o lugar do negro era na senzala e isso, para o explorador / ostentador estava ótimo.
Em 1889, por pressão internacional, a escravidão é abolida e os negros se tornam homens "livres" na forma da lei. Não obstante, os negros foram jogados porteira / porta a fora das fazendas, engenhos e moinhos. Forma bem diferente da encontrada pelo governo brasileiro para outras etnias que destas terras se apropriaram.
A partir disso os negros passaram a buscar emprego para se sustentarem e passaram a encontrar resistências das “convenções sociais” que não desejavam os negros andando pelas cidades. A partir desse desejo, foi sancionada a “lei da vadiagem” que punia qualquer cidadão que estivesse andando pela cidade sem emprego. Ou seja, o objetivo era prender ex escravos.
A tal lei perdurou por tempo suficiente para levar os negros para a cadeia ou para os subúrbios distantes dos grandes centros/ oportunidades. No centro se viam alguns poucos negros empregados como cozinheiras, faxineiras, babás e jardineiros nas casas dos seus antigos proprietários. Nessa fase o lugar do negro era na cozinha e isso era aceitável.
Através dos movimentos negros organizados, indivíduos negros e brancos de grande notoriedade do século XX, a situação do negro no Brasil evoluiu de forma significativa e o negro teve a possibilidade de se tornar protagonista da própria história. As oportunidades aparecendo e a população negra, muito representativa, alçaram novos e longos voos. No final do século, especificamente, os negros passaram se capacitarem de forma intensa, os pais investiram nos filhos o que não tiveram a possibilidade de experimentarem e dessa forma chegaram ao ensino superior. O mundo não acabou no ano 2000 e a população negra finalmente se faz representado nos principais campos da sociedade no século XXI. Hoje, encontrar um médico, engenheiro, juiz, advogado ou executivo negro se tornou algo possível. Ou seja, os negros chegaram à sala e isso tem incomodado demais e para a média da sociedade brasileira, ver Negros na senzala é ótimo, na cozinha é aceitável, mas na sala é inadmissível.
Se você ainda não entende o impacto disso em toda a sociedade Brasileira atual, você faz parte do grupo que necessita de maior consciência sobre a história brasileira.

Artigo publicado em 01/11/2019 no jornal Toda Hora

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