Precisamos olhar mais para o futuro e menos para o passado


O Brasil olha para o Rio Grande do Sul com pena ao tomarem conhecimento do poço que chegamos. Já fomos o estado modelo, industrializado e com uma educação de referência. Hoje somos apenas um povo arrogante que ainda acha ser melhor que os brasileiros das demais regiões. Hoje a indústria  gaúcha sobrevive se compararmos ao que já significou, não somos mais referência para nenhum outro estado, inclusive a gauchada esta migrando para outros estados, especialmente Santa Catarina, em busca de emprego, às vezes bem mais simples que os que já exerceram aqui. A educação nem se fala, o estado não apresenta um plano, nem demonstra interesse em encontrar alternativas palpáveis para garantir o mínimo de qualidade para os alunos e dignidade para os professores. Observa-se uma obsessão por privatização. Apesar de estarmos no meio de uma das maiores greves do magistério, os professores ainda trabalham porque ainda acreditam no seu papel de transformar a sociedade através da educação.
Diante desse cenário gaúcho, sinto muita dificuldade  de vislumbrar uma solução em curto prazo, ainda mais com  os movimentos vindos do governo federal, que parece não estar disposto a colaborar com os estados. Só pensa em criar mecanismos para marginalizar a atuação dos profissionais de educação e uma forma de empilhar militares da reserva para "adestrar" alunos.
Por óbvio sou contra o modelo militarizado na educação pelos 3 seguintes motivos:
1- Nenhum país de referência em educação utiliza uma politica militarizada como projeto nacional de educação.
2 - Muitos profissionais da educação de diversos estados brasileiros e correntes pedagógicas passaram muitos anos estudando e trabalhando para apresentarem e aprovarem em 2017 a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Um documento técnico com mais de 500 páginas que atualiza e moderniza a educação pública e privada  nesse país priorizando o desenvolvimento de 10 competências essenciais para o indivíduo no século XXI. Aí aparece um presidente com um ministro que pouco ou nunca entrou em uma sala de aula e em seus devaneios acreditam que o modelo punitivo e limitador poderá resolver as facetas da educação brasileira.
Alguns dirão que os resultados das escolas militares hoje são excelentes e é claro que eu vou concordar, pois as estatísticas (números) são inquestionáveis, porém racionalize e faça um reconhecimento do perfil alunos e a origem das famílias desses alunos. A maioria das vagas é reservada a filhos de militares e as demais vagas são para alunos admitidos através de um "vestibular". Em regra, são alunos oriundos de famílias estruturadas e financeiramente organizadas pela profissão dos pais e os demais alunos foram aprovados no "vestibular" que já são os melhores alunos das suas escolas. Ou seja, as escolas militares só contam com alunos que vivem no ambiente militar e outros que desejaram, por eles e por suas famílias, estarem ali. No outro extremo esta a escola pública, que recebe quem quer que seja e em qualquer condição sócio emocional para ensinar.


Desde cedo aprendi que o óbvio precisa ser dito, por isso reafirmo explicitamente que não se trata de uma defesa da anarquia ou indisciplina na escola. Em muitos  momentos o professor precisa se impor e a instituição escolar precisa enquadrar o estudante estabelecendo limites objetivos claros. 
3- Os milhões que serão disponibilizados  para as escolas cívico militares serão para o pagamento dos militares, ou seja, não esta prevista melhorias na estrutura, valorização dos professores entre outras ações que a educação nacional tanto precisa. Tudo esta sendo pensado por eles e para eles.
Para fechar, a educação é o caminho para tornar uma nação forte em todos os sentidos e não é lugar para fazer experimentos e nem para achismos, a educação precisa ser respeitada com uma ciência que está em constante transformação. Por que não olharmos para casos de sucesso comprovados em países como Japão, Alemanha, Singapura ou Finlândia, talvez Portugal que evoluiu exponencialmente nos últimos anos. O fato é que o mundo nos olha com pena e preocupação e nós precisamos olhar para o futuro e não para um passado totalitário.

Crônica publicada no Jornal Toda Hora em 06/12/2019.

Comentários