A demonização da cultura e a fome de poder


            Está em curso a implantação da ideia de que a diversidade de pensamento é a raiz dos males da nossa sociedade brasileira tão punida por seus poucos séculos de saqueamento e apropriação de suas riquezas, principalmente, as naturais. No entanto nos assegurávamos em uma cultura forte oriunda, ironicamente, da diversidade de povos que constituem esse continental país. Cultura de ver com positividade o futuro, apesar de um presente sofrido. Uma musicalidade invejada ao redor do planeta, dança, tolerância religiosa que permitia, inclusive um sincronismo entre 3 ou mais religiões que deram origem a uma outra religião genuinamente brasileira e é claro, a nossa literatura riquíssima, diversa e livre.

            Eu, como escritor e antes disso leitor, vejo com pavor a cruzada travada por governantes ignorantes e intolerantes, que provavelmente não leram suficiente, por isso não gostam. É a máxima, “não li e não gostei”. Foram inescrupulosos e audaciosos que censuraram autores como Machado de Assis, Rubem Fonseca, Ferreira Gular, Mario de Andrade entre outros grandes autores que com talento em detalharam em suas obras o povo brasileiro que forjou a nossa cultura. Quem odeia estes autores, no fundo odeia a sua própria história, pois ao ordenarem a exclusão desses autores consagrados, eles não estão apenas queimando papel com um monte de coisas escritas, estão queimando nossa identidade enquanto povo, enquanto nação, além da nossa jovem constituição federal que garante o direito da liberdade de pensamento e o acesso ao mesmo. Aliás, a mesma constituição, de forma explícita diz que o estado deve ser laico, mas hoje nunca sabemos se estamos diante de um ato público formal ou em um culto religioso. A Bíblia se tornou base de políticas públicas que ignoram estudos atuais, o bom senso e o respeito. Que a legalidade nos proteja da queima de livros, primeiro ato para demonização da cultura e diversidade, pois Deus já foi customizado pelos que tem fome de poder.

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