O maior desafio da educação pública neste século



Se no século XX o maior desafio era universalizar a educação, em 2020, estamos diante do maior desafio da educação pública desse novo século. Digo isso com muita tranqüilidade e sem exageros, é claro que a primeira grande crise e que merece maior atenção é a sanitária que traz consigo efeitos colaterais graves na economia e outras, tão importantes como, mas menos destacadas na grande mídia. Chamo a atenção para a educação básica, especialmente a pública, que pouco se fala nos impactos das necessárias restrições sociais na vida pedagógica de mais de 40 milhões de estudantes, que correspondem a mais de 80% dos estudantes brasileiros.
Acreditamos que o primeiro desafio é a garantir alimentação, em conjunto com outras áreas públicas, a alimentação dos alunos, pois muitos, principalmente nas periferias das médias e grandes cidades dependiam da merenda escolar para terem uma alimentação balanceada ao longo da sua infância e adolescência. Nesse ponto, felizmente, o congresso se adiantou e autorizou, se necessário, a utilização do PNAE para complementar as ações para essa garantia.

O segundo e principal desafio indelegável é o de garantir o direito constitucional à educação: Apesar de a alimentação ser essencial para que se dê qualquer outro passo seguinte, percebe-se que o maior desafio da educação pública nesse momento é garantir o direito constitucional da criança e do adolescente à educação. Porém, como fazer educação à distância, remota ou atividades complementares a distância se na região sul, por exemplo, cerca de 30% da população não tem acesso à internet em casa? Como os pais conseguirão ajudar os alunos sem nenhum tipo de conhecimento metodológico? Como motivar os professores, que boa parte sempre resistiu em inserir novas tecnologias na educação? Que tipo de material pedagógico deve ser produzido para cada nível de ensino que vai da educação Infantil ao ensino médio, passando pelas séries iniciais (alfabetização) e EJA?
Esses questionamentos estão constantemente na cabeça dos gestores e todos os demais profissionais envolvidos com a educação pública. Com certeza ninguém tem a resposta pronta para todas elas e entendo que cada município precisará avaliar sua realidade e em conjunto tomar as decisões necessárias para reduzir os danos das escolas fechadas. Não temos o direito a inércia. Entendo que temos que criar uma estratégia, envolver os professores, pais alunos e responsáveis para que todos se empenhem e constantemente a estratégia seja reavaliada. Não teremos como manter o mesmo padrão das aulas presenciais, dados os desafios de fala de estrutura e a passagem de um modelo exclusivamente presencial para outro totalmente à distância, porém, se não perdermos os vínculos com os alunos e famílias já atingiremos metade do objetivo, pois, de acordo com Piaget, “a afetividade é a energia que move as ações humanas, sem ela não há interesse e não há motivação para a aprendizagem”. Ou seja, que sejamos capazes de manter os vínculos afetivos com nossos alunos para garantirmos um “Day after” com melhores prognósticos para nossa educação.

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