Se não o Covid19, o que nos ensinará?

            Estamos passando por uma situação jamais vivenciada em nosso país, nem mesmo em tempos em que as gripes comuns matavam pelo simples fato de inexistir medicações para combatê-las. Por obvio que discutir essa crise sanitária mundial é papel para especialistas da saúde e não para qualquer cidadão comum, afinal, nem todos são médicos e loucos. Todavia, nós que escrevemos sobre as vidas das pessoas, sob a nossa ótica, podemos interpretar as transformações humanas que poderão ocorrer a partir dessa quarentena, que para mim, que gosto de abraçar, apertar e beijar meus filhos, conhecidos e amigos. Sou latido com sangue negro, gosto de estar com pessoas. Gosto de receber e demonstrar afeto e como dizia Jung, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. Nesse contexto, percebo que teremos que nos adaptarmos a uma nova realidade, ao contrario do que boa parte pensa, eu acredito que nada será como era antes. Infelizmente, pelo estresse conheci o lado sombrio e egoísta de pessoas que admirava, que até então estava disposto a junto com elas lutar por quase qualquer coisa. Percebi que a ansiedade de muitos colocou diversos amados seus em risco, pelo simples fato de achar que tudo acabaria nas prateleiras e que não existe outra forma de viver se não trabalhando por um salário que ela mesma desdenhava até a chegada do COVID19, para isso, estavam dispostos colocarem suas vidas e dos que amam em risco de contagio. Percebi que alguns já viam um apocalipse acontecendo, pessoas sem qualquer comportamento antissocial anterior esfaqueando os outros pelas ruas em troca de um pedaço de pão. Percebi que as pessoas não entendem o real motivo pelo qual o estado existe e porque pagam tantos impostos. Obvio que o estado precisa garantir a dignidade humana, apesar de terem resistido em se moverem e devolverem um pouco do que pagamos ao longo de nossas vidas eles se movimentarão e aprovaram regras de repasse de valores para que as pessoas se sustentem sem virarem animais famintos irracionais como tantos pintaram com menos de uma semana de afastamento social.


            Não foi só desespero, egoísmo e avareza que vi, pelo contrário, presenciei muitas pessoas se voluntariando para ajudar. Não importava como, as pessoas queriam amenizar o seu sofrimento e o das outras pessoas. Vi e li profissionais de saúde, liberais, educação oferecerem seus conhecimentos através de consultas a distância de forma gratuita. Vi jovens fazendo compras no supermercado para idosos não se exporem, vi pessoas que nunca pegaram em uma agulha produzirem mascaras de proteção. Outros cozinharam para motoristas de caminhão, pois os restaurantes estiveram fechados, líderes religiosos conscientes transmitiram suas palavras de amor e esperança pela web. Pais e mães se sentaram novamente para almoçarem e estudarem com seus filhos. O mundo está passando por uma profunda, dolorosa e transformadora experiência, assim como melhoramos depois de outras grandes catástrofes como a 1ª e 2ª guerra mundial, acredita que seremos melhores. Mas, como tudo na vida, temos o livre arbítrio e se vamos ser pessoas melhores ou piores é uma decisão individual que impactará na sociedade.
            A quarentena me ensinou a amar mais, ser mais paciente e tolerante, aproveitar os momentos com quem amamos, aprendi que os velhos amam viver e que as crianças são o cerne da sociedade. O isolamento social vai passar, a ciência mundial evoluiu muito e logo criarão uma vacina de controle, mas fico pensando humanisticamente, se a COVID 19 e sua quarentena nada nos ensinar, o que poderá?

Me sigam @everton.gaide.escritor

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