Precisamos falar de racismo para superá-lo


Deixa pra lá; Isso não acontece aqui; Basta estudar que consegue; Nós somos diferentes; Essas coisas só acontecem na Europa e EUA; Todos são iguais; Você já conquistou seu espaço, deixa isso pra lá; Foi um caso isolado; Tenho amigos negros; Minha empregada é negra; Eu emprego negros, veja bem, a tia do cafezinho é negra, o segurança é negro e assim vai... Entre outras frases batidas que ouvimos de pessoas brancas que tentam nos ensinar como é ser negro no Brasil. Que irônico, não?


            Por outro lado, ao longo da minha caminhada como educador, pesquisador, escritor e entusiasta dos direitos humanos, especialmente dos direitos humanos negados por questões de étnicas. Percebe-se que de tanto ouvirem o discurso do primeiro parágrafo, muitos acreditam que no Brasil não existe racismo, fato que comprova a falta de conhecimento da nossa própria história, sua fundação e hereditariedade. Na verdade, isso é o que todo e qualquer opressor deseja alguém que é oprimido não se reconheça como tal, assim sua dominação pode continuar sem que haja qualquer intervenção de terceiros. Isso acontece também nos relacionamentos abusivos entre marido e mulher, pais e filhos e, nessa condição a pessoa não é capaz, por ignorância ou por grande afetividade, interpretar o que acontece. Quem não ouviu falar da síndrome de Estocolmo?


            Voltando para essência dessa crônica, apesar dos últimos casos de explícito racismo como no caso das pichações racistas/ nazistas em São Leopoldo, em geral a discriminação é silenciosa, sádica e traiçoeira no Brasil. Ela está naquele emprego que você não conquistou mesmo tendo experiência e formação para o cargo, às vezes claramente mais qualificadas e experientes que aquele que conquistou, às promoções que não acontecem por questões jamais esclarecidas. De acordo com o IBGE, o índice desemprego da população negra e parda é 3x maior que a população branca e que nas empresas, apenas 10% dos cargos de chefia são preenchidos por negros, mesmo que o número de negros formados no ensino superior tenha crescido mais de 200%, partindo de menos de 3% em 2000 e chegando a mais de 9% em 2018.

Temos que parar com a ideia de que não devemos falar da discriminação, dou palestra sobre o tema há anos e pouco antes da pandemia tive a oportunidade de falar para mais de 200 professores sobre estas questões apresentando um novo ponto de vista, com outro foco na história e enfatizando o poder transformador da escola. Com esta palestra e a reação dos professores, tenho convicção de que teremos um futuro diferente, mais justo e mais humano que impactará no crescimento econômico do nosso país se discutirmos essa temática com compreensão, respeito, afeto e atitude.


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