A educação não é mercadoria


Nas últimas duas semanas o debate sobre volta ou não volta às aulas presenciais tomou conta da sociedade gaúcha. Essa discussão se deu a partir do pronunciamento do secretário estadual de educação apresentando uma previsão de retorno das aulas presenciais a partir de 31 de agosto. Desde então o tema dominou as redes sociais, não só por ter sido uma decisão unilateral o que surpreendeu a maioria dos prefeitos e secretários de educação do estado, mas também pela proposta de se iniciar pela educação infantil, logo, crianças menores de 6 anos e com menor autonomia.
         Algumas informações importantes precisam ser consideradas nessa decisão de retorno ou não da volta às aulas presenciais. O primeiro deles é o momento, pois os dados oficiais nos mostram que vivemos uma estabilização alta no número de novos contagiados e mortes diárias no Brasil e crescente no Rio Grande do Sul. Não precisa ser profissional da saúde para interpretar números, mais do que isso, basta olhar para o nosso ciclo de amizade e ver que os contágios estão ao nosso lado sendo que muitos que estão lendo essa crônica já sofreram com essa doença em si ou na família e sabe que não é nada simples. Diante disso, não há garantia de segurança sanitária para alunos, profissionais da educação e famílias.


         Segundo, não há uma articulação nacional no MEC ou mesmo Ministério da saúde que oriente e dê o respaldo necessário para que os demais níveis de gestão possam decidir com garantias mínimas de segurança. Inclusive, no pronunciamento do Secretário estadual de educação essa omissão por parte do MEC foi mencionada inúmeras vezes. Terceiro ponto, fala-se muito que o retorno das aulas presenciais é em função da pressão das escolas particulares, especialmente de educação infantil que estão fechando as portas. Penso que a pressão deles é justa, mas me parece na direção contrária. Essa pressão deveria ser na equipe econômica do poder público para que se criasse políticas econômicas de socorro ao setor e não forçar um retorno que pode colocar em risco milhões de pessoas. Fica evidente que não é uma pressão dos pais pois a grande maioria reafirma que mesmo que as escolas retomassem nesse momento, não mandariam seus filhos.
         É preciso respeitar as especialidades de cada área, por isso entendo que quem deve orientar o retorno das aulas presenciais são as autoridades de saúde; quem deve reorganizar as estratégias pedagógicas é a educação; quem deve resolver problemas econômicos são as equipes econômicas. A educação não é mercadoria

Comentários