Confusão de papéis prejudicam instituições

No último final de semana tivemos a ótima notícia da liberação do uso emergencial de duas vacinas. Essa informação, por si já é uma grande vitória e uma injeção de esperança sem precedentes no combate a disseminação do vírus e por isso entendo que deveria ser melhor comemorada pelo ministro da saúde ao invés de entrar em debate político. Aliás, o ministro da saúde vem sendo bastante criticado por sua postura "bitolada" diante da pandemia. Essas críticas vem dos profissionais da saúde, pesquisadores e até do oficiais militares que entendem que ele já deveria ter solicitado a reserva para continuar como ministro. 


O exército é um órgão de estado, ele existe para defender a soberania do país e esse interesse não pode estar a serviço de um governo ou de outro, governos passam e a instituição continua, mas nesse momento o que temos é uma confusão de papéis em que vemos claramente um general da ativa falando em nome do ministério da saúde. Essa situação tem sido prejudicial para a imagem do exército e do ministério da saúde sitiado por pessoas sem a devida competência para conduzirem políticas públicas nacionais de saúde.

Tenho orgulho de ser ex militar condecorado, estive em missão de paz no exterior, sei como funcionava essa instituição por dentro, não eram permitidas manifestações políticas partidárias, mas parece que isso mudou nos últimos anos. Nesse momento, por mais que se tente desvincular a imagem do exército da crise humanitária na saúde, o ministro da saúde é, enquanto for da ativa, um representante do exército no governo. Essa confusão de papéis só enfraquece o ministério da saúde e o exército, instituições que eram bem mais respeitadas.

Crônica publicada em janeiro de 2021 no Jornal Toda Hora!

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