O vírus do poder é mais forte que o covid


 Nesse mês chegamos aos 12 meses de pandemia. Sei que às vezes é difícil de acreditar que já se passou ano do primeiro caso confirmado e ultrapassamos a dolorosa marca de mais de 255 mil mortes por Covid-19 com quebras de recordes diários de mortes nas últimas semanas que consolida o Brasil como o segundo país com mais perdas em números absolutos. Diante de tantas evidências, sejam elas coletadas através dos noticiários, artigos científicos ou pelas nossas próprias vivências, ninguém, em sã consciência pode negar o abismo ao qual estamos metidos. Hoje, depois desses lamentáveis 12 meses, nenhum de nós passou ileso, ou perdemos alguém muito próximo que amávamos ou conhecemos alguém que perdeu alguém próximo.

 

As mortes, a falta de perspectivas reais em curto prazo e o conflito de ideias entre as lideranças que dificultam ainda mais a luta contra o vírus deixam evidente que vivemos uma situação análoga a uma guerra. Sim, não é exagero. Aliás, deveríamos estar realizando uma operação de guerra liderada pela união contra o coronavirus e não contra quimeras criadas para confundir os cidadãos causando mais sofrimento ainda.

A minha analogia com a guerra torna-se ainda mais real se pensarmos que o "combate" ao vírus está sendo liderada por militares. Sendo assim, os embaraços na condução da gestão desta "guerra biológica" que não reduz o contágio é em grande parte culpa dos oficiais das forças armadas que se vislumbraram novamente com o poder e viraram as costas para quem deveriam defender acima das suas ideologias.

Para ser bem direto, os militares deveriam pegar as suas fardas sujas de sangue do povo brasileiro e voltarem para os quartéis para apoiarem os profissionais da saúde qualificados, competentes e preparados conduzirem crises sanitárias.


Quem acompanha o meu trabalho como escritor e cronista sabe do orgulho que tenho de ter feito parte do exército por mais de cinco anos e que sempre procuro apontar perspectivas positivas para os conteúdos que abordo, mas nesse momento a única perspectiva positiva é a saída dos generais do comando da saúde brasileira. A permanência deles é causada pela infecção causada pelo vírus do poder que parece ser mais perigoso que o próprio coronavirus. Não acredito que a saída dos militares possa acontecer em curto prazo e isso significa que ainda temos uma sofrida caminhada pela frente.

Que sejamos capazes de cuidar uns dos outros!

Crônica publicada no inicio de março de 2021 no jornal Toda Hora

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